Artes _ 31 agosto _ por Sérgio Zobaran

O mundo maravilhoso de Anna Bella

Musa pioneira do abstracionismo no Brasil, Anna Bella Geiger traduz pensamentos para muito além da estética estranha e bela.

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“And I think to myself What a wonderful world…” (Louis Armstrong, Nova Orleans 1901-1971, NY) O trecho da música composta pelo trumpetista e pioneiro do jazz Louis Armstrong emociona a artista plástica Anna Bella Geiger (aos 89), e abre o convite de mais uma de suas exposições na galeria Aural, na Espanha, neste mês de setembro. Antes de embarcar rumo a Madri, para onde levou duas malas abarrotadas com 10 a 12 de suas obras recentes, Anna Bella apresentou com exclusividade para a FLO, em sua casa-ateliê, um pouco/muito desse mundo que a fascina - como nos mapas-múndi que permeiam sua obra com uma presença marcante. Destes, Anna levou alguns originais, novos e fofos, ovalados, que ela chama de macios… O amplo apartamento, a cobertura de um prédio modernista no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, revela de forma escancarada a criadora inteligente e obcecada que virou musa pioneira do abstracionismo no Brasil, e as suas criaturas fantásticas, trabalhos de todas as épocas que traduzem pensamentos para muito além da estética estranha e bela, como um manifesto a ser apreciado e, melhor ainda, compreendido. Neste contexto em parte por ela a nós desvendado, a filha de imigrantes judeus poloneses que desembarcaram no Brasil entre guerras cresce com olhos voltados só para a arte que aprofunda com os ensinamentos da artista e professora Fayga Ostrower, e aprimora nos EUA. Tendo o MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) como laboratório de sua arte, e a própria casa como fábrica de ideias, entre prensas e os mais diversos materiais, o marido geógrafo, e as quatro crianças - filhos hoje até avós, bem sucedidos das ciências ao design, orgulhos seus que criou com dificuldade -, Anna Bella se classifica como quem resolveu ser “aquela que faz”. E fez muito até agora. Conheça um pouco mais dessa realidade quase louca de uma mulher excepcional que insiste em se achar normal.