Moda _ 22 março _ por Sérgio Zobaran

Felipe Veloso, um contador de histórias

Ao longo de três décadas de trabalho de um olhar privilegiado, Felipe Veloso tornou-se um dos mais requisitados produtores de moda do Brasil. Com muitas histórias a contar.

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Em plena Ipanema, no meio do burburinho da rua principal do bairro, mas trancado por dentro de um apartamento antigo, silencioso e refrigerado no auge do verão carioca, o produtor de moda Felipe Veloso, como ele melhor se define, abre as portas deste seu organizadíssimo cofre lotado de coleções de tudo: roupas, naturalmente, arte, décor, memórias, histórias, espelhos de uma vida anticonvencional, aparentemente, e antimonotonia, tudo regado a pão de queijo quentinho e afeto de amigo-irmão de uma vida inteira. Se o personagem existe e reflete com credibilidade sua segunda profissão (sim, ele é, antes de tudo, dentista formado nas Forças Armadas, onde chegou a primeiro-tenente), não estranhe encontrar um homem alto, magro mas sólido, atlético e zero afetado, inteligente e articulado, que faz de sua existência um acúmulo de experiências - dele e dos outros - que conta com prazer inenarrável e discrição invejável aos 52 anos - mas com um corpinho de 25 do qual se orgulha porque não muda: é exercitado o tempo todo, onde quer que esteja neste mundo, especialmente em corridas pelas cidades que assim melhor conhece, mesmo quando ali está a trabalho. O olhar de Felipe sobre o outro é o de uma estética absurda. E sobre ele próprio tudo começou quando sua maneira de ser e se apresentar foi notada. Já aos 12 pintou o cabelo de castanho e no colégio ninguém perdoou. Hoje, sua juba crescida por até cinco anos não existe mais, e o cabelo está (até o dia da gravação, pelo menos) vermelho, com um corte em forma de coração na nuca que revela um amor, um só, que está ali presente entre nós, tão discreto quanto o parceiro, pelo menos no quesito educação. É isso: Felipe só conta o que pode, abre/fala o que deve, é observador atento, pesquisador absoluto, criativo nato e inato, e esperto: não entrega ninguém! Caetano Veloso, cliente seu, vira assunto en passant na conversa, sem detalhes, apenas o do terno com tênis uma vez adotado; Regina Casé é relembrada pelo programa de TV que os fez viajarem juntos pelo Brasil e até pedir emprestados acessórios interessantes de gente da rua. Ótimos momentos, bons trabalhos, e o que vale é a história que cada um dele irá transmitir às lentes das câmaras e aos olhos do público - a imagem que querem passar… O papo deste profissional na veia é sempre reto, com boas lembranças e sem as gargalhadas inerentes a este tipo de descrição sem discrição, como normalmente rola. E o ego fica meio à deriva - não precisa: inclusive a força ao trabalho dos amigos também é relembrada, por exemplo no elogio aos @pirilamposdoplaneta Lula Duffrayer e Flavio Carvalho que, com seu lixo plástico transformado em arte iluminada, “já deveria estar aí pelo mundo”, Felipe reforça e recomenda. E se envolve naturalmente com a obra da dupla para as fotos, tão logo pedimos que ele faça uma “Irma Vap rápida” na troca de 6 roupas para a sessão de fotos dessa figura que todo mundo precisa conhecer mais, como a FLO fez neste vídeo que você agora vai assistir.