Arquitetura _ 02 maio _ por Sérgio Zobaran

Guto Requena: memória high tech

Casarão tombado no bairro paulistano do Bixiga abriga o talentoso Estúdio Guto Requena, que justapõe memória e futuro com uma forte camada adicional de infraestrutura e tecnologia.

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No Bixiga, centro de São Paulo, um casarão tombado de 1911, e cercado de jardins — que nasceu residência pomposa em estilo italiano, como o bairro, e neste século 21 foi local de formação para restauro e, depois, de manifestações artísticas como peças de teatro e exposições —, abriga o talentoso Estúdio Guto Requena, que completou 15 anos em dezembro do ano passado. A configuração atual do lugar, que hoje justapõe memória e futuro, mantém tetos esculpidos de madeira, pisos de madeira e também de ladrilhos, e esquadrias de pinho de riga originais em um mix&match com uma forte camada adicional e contemporânea de infraestrutura e tecnologia — muita tecnologia, como nos projetos e pesquisas desenvolvidos pelo Estúdio, que tem totalmente este DNA. GERAÇÃO CYBORG Mesmo localizado neste região com diversas atrações e restaurantes em sua maioria italianos, ali a história negra encontra espaço. Foram encontrados objetos que se acredita terem sido do Quilombo de Saracura, um dos primeiros da capital. O Estúdio Guto Requena, que tem como premissa em suas criações o respeito à memória, acredita que nesse momento é de vital importância a reivindicação dos espaços da cidade pelas diferentes massas da população. “O futuro é tecnológico, humano, não binário, diverso e… ancestral”, diz o arquiteto Guto Requena, natural de Sorocaba, interior do estado, e fã da capital, onde sempre preferiu o eclético centro, inclusive para morar. Em seu depoimento à FLO, o jovem Guto reitera que seu trabalho tenta carregar emoções, desdobrar pesquisas, e repensar o corpo humano e sua relação com a arquitetura, o viver, morar e trabalhar: “Somos a primeira geração cyborg, carne e máquina misturadas”. Com o impacto da tecnologia, da qual é um aficionado, ele acredita em novas técnicas e materiais de construção mais ecológicos e sustentáveis, em busca de uma proteção e preservação — do planeta e do próprio ser humano — e do bem estar de uma sociedade mais orgânica e feliz. A conversa se desenvolve em torno de casas conectadas, madeira engenheirada no lugar de concreto, tijolo e vidro, como no museu cujo projeto está sendo desenvolvido no sul do País. E se transforma em experiência viva no laboratório existente no térreo da casa, e que faz medir através de sensores os nossos batimentos cardíacos e sua reverberação em relação a quem está na cadeira conectada em frente - e vice-versa. Móveis e objetos criados em 3D são resultados de outras experiências desenvolvidas em casa, e estão ali para serem admirados também, depois de realizadas a partir de ondas provenientes de lugares tão inusitados quanto as ruas de São Paulo e seus sons/barulhos, como no exemplo pioneiro da cadeira Nóize. “A tecnologia não tem volta, veio para mudar tudo para sempre”, palavras de Guto. Assista agora os vídeos que realizamos neste seu escritório-laboratório em São Paulo.