Artes _ 20 maio _ por Silvana Maria Rosso

Lotte Thuenker: do concreto à pedra

A alemã Lotte Thuenker trilhou um caminho fascinante da arquitetura para a escultura. Após anos trabalhando em escritórios de Berlim, em 1992 decidiu explorar novas formas de criação.

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Ao começar a desenhar, trabalhar com papel e maquetes, a alemã Lotte Thuenker descobriu o mármore nas montanhas da Garfagnana, na Toscana, uma paixão à primeira vista. Ainda atuando como arquiteta, passou a viajar frequentemente para Pietrasanta, na Itália, até que decidiu testar seu talento e paciência nesse novo ofício. “Paciência é essencial nesse trabalho”, afirma. Seis meses depois, passou a dividir seu tempo entre Itália e Alemanha. Hoje, no Studio Pescarella, trabalha com outros artistas dedicando-se à escultura em diversos tipos de pedra, além do bronze e colagem. Seu marido, também arquiteto, projetava casas para os artistas em Pietrasanta, mas agora vive mais na Alemanha, levando Lotte a viajar com mais frequência. Além da escultura, ela atua em projetos de interiores, complementando a arquitetura idealizada pelo marido, onde suas sugestões de cores e materiais criam conexões entre arte e arquitetura. “Os clientes acabam virando amigos e comprando minhas esculturas e pinturas. Amo integrar decoração, escultura e pintura.” O mármore tem o poder de encantar artistas, e com Lotte Thuenker não foi diferente. Arquiteta formada pela TU de Berlim (Technische Universität), construiu uma carreira sólida antes de se revelar escultora. Seu olhar técnico permanece presente em sua arte: “O arquiteto está sempre ali. As linhas devem ser perfeitas”, afirma. Seu processo criativo é instintivo. Quando encontra um bloco bonito, compra sem saber exatamente o destino da peça. “Se gosto do material, escolho por instinto e, mais tarde, descubro como usá-lo.” O trabalho manual é sua paixão, pois está envolvida do início ao fim. Já na fundição do bronze, o processo é diferente: ela acompanha, mas delega a execução. “Quando entrego uma peça para a fundição, fico fora do processo. Só vejo o trabalho pronto e, depois, eles aplicam a pátina.” A coleção de sementes de Lotte é um portal para um mundo de formas e texturas. Cada semente é uma promessa, um ponto de partida para esculturas que transcendem a matéria. “Quando o trabalho está pronto, já não se percebe que veio de uma simples semente, mas a ideia nasceu ali”, revela a artista. Em seu atelier, a escultura encontra a colagem em um diálogo vibrante. Recortes de jornal e papel japonês se transformam em formas que ecoam suas esculturas, em composições monocromáticas, revelando a alma da artista. "É um processo completamente diferente da escultura em pedra, e isso me fascina", compartilha Lotte. Ela sussurra com as pedras e nos leva a uma jornada fascinante através de suas fases criativas. De peixes que dançam em mármore a elefantes que ganham vida, sua arte é um testemunho da metamorfose constante da natureza. Em sua fase atual, Lotte se dedica aos pintinhos, galinhas e passarinhos, esculpindo-os com uma leveza que os faz girar e mover. Suas formas, quase abstratas, revelam a essência dos animais através de traços precisos, dispensando detalhes excessivos. Com um olhar perspicaz, captura a essência dos seres, esculpindo não apenas a forma, mas a alma que a habita. Suas esculturas são um convite a contemplar o invisível, a desvendar os segredos que residem no interior. "Um artista expressa coisas internas que não são óbvias, que não são ruidosas", reflete Lotte. Suas obras são um reflexo de sua própria jornada interior, um mergulho nas profundezas da alma humana. -