Patricia Urquiola, o design como princípio
A italiana Patricia Urquiola é uma das mais influentes designers da atualidade ao construir uma trajetória guiada pela inovação e pela sustentabilidade.

Nascida em Oviedo, formada em arquitetura pelas Universidades Politécnicas de Madri e Milão, a arquiteta e designer Patricia Urquiola estudou com Achille Castiglioni e foi assistente de Castiglioni e Eugenio Bettinelli, colaborou com Vico Magistretti e integrou o Lissoni Associati antes de fundar, em 2001, o Studio Urquiola, ao lado do marido Alberto Zontone. Desde então, vive o design e a arquitetura de forma integrada. Seu estúdio, com cerca de 70 profissionais, funciona no mesmo espaço onde mora e mantém um pequeno laboratório de pesquisa. “É todo um sistema de vasos comunicantes e de inter-relação, que eu amo muito”, afirma. Urquiola defende o design empático e centrado nas pessoas, unindo tecnologia, emoção e consciência ambiental. “Estamos muito atentos às transições para redesenhar os processos de produção, tanto da arquitetura quanto do design, e a entender os materiais de uma maneira diferente”, diz. Entre suas obras estão o Museo del Gioello (Vicenza), o Hotel Mandarin Oriental (Barcelona) e o spa do Four Seasons (Milão). Além de colaborar com marcas como Flos, Moroso, Kartell, Louis Vuitton e Molteni, e ser desde 2015 diretora criativa da Cassina, Urquiola desenvolve mostras e exposições. Reconhecida mundialmente e detentora de inúmeros prêmios, Patricia Urquiola recebeu, na 15ª Bienal de Florença — ocasião em que a FLO Magazine teve a oportunidade de entrevistá-la — o Prêmio “Leonardo da Vinci” de Carreira, apresentando a exposição “Transitions”. Patricia foi homenageada com esse prêmio por sua carreira, distinção concedida a designers cujo trabalho representa uma contribuição notável para o desenvolvimento e a difusão do design contemporâneo. O tema da edição de 2025, “The Sublime Essence of Light and Darkness. Concepts of Dualism and Unity in Contemporary Art and Design”, explorou o diálogo entre luz e escuridão — um casamento simbólico que permeia há séculos as investigações artísticas, científicas, filosóficas e literárias. Na ocasião, apresentou a exposição “Transitions”, uma instalação que expressa o cerne de seu método criativo, baseado na experimentação, na sensibilidade e no equilíbrio entre opostos. Nesta entrevista para a FLO Magazine, explicou que não selecionou peças ícones para a mostra, mas aquelas que foram importantes em algum momento para ela, como a mesa Babar Table, criada para a Glass Italia. Para Patricia, o design nasce da curiosidade e da escuta atenta das mudanças do mundo. No estúdio somos pessoas muito curiosas, e quem não é acaba se tornando”, afirma, ressaltando a importância de observar os processos sob novos pontos de vista. Esse olhar se manifesta na instalação “The Other Side of the Hill”, apresentada na 19ª Bienal de Veneza, que uniu microbiologia, física e design, a obra reflete sobre o crescimento e o colapso populacional, propondo novas formas de convivência e regeneração. Falar em sustentabilidade é compreender que “não se trata apenas de um produto, mas de uma mentalidade evolutiva”, afirma Patricia Urquiola, destacando que esse processo exige constante superação e transformação. Para a designer, a pesquisa de materiais é um dos aspectos mais instigantes do design contemporâneo. “A matéria não é neutra”, observa ela, “pois está repleta de valores — inclusive socioeconômicos.” Na Bienal de Arquitetura de Veneza, Urquiola integrou a equipe multidisciplinar de “The Other Side of the Hill”, uma instalação que utilizou bactérias como metáfora de colaboração e adaptação, propondo novas formas de convivência e modelos regenerativos de vida urbana. Durante a Milano Design Week, com a instalação “Alchemica” para a Elle Decor Italia, a designer investigou a metamorfose dos espaços domésticos, inspirando-se na alquimia como símbolo de mudança e evolução contínua. Essa mesma filosofia se manifesta em seus projetos de produto, como a poltrona desenvolvida para a Cassina e o painel apresentado na exposição “Transitions”, na qual repensa modos de produção e experimenta materiais regenerados e regeneráveis, reafirmando o design como um campo vivo, em constante reinvenção. Com uma carreira sólida e moldada pela convivência com grandes mestres, a arquiteta e designer Patricia Urquiola costuma afirmar que valoriza as imperfeições e os erros, pois são “momentos em que mais se aprende”. Essa visão, somada à influência de mentores que não se limitavam a um único campo de atuação, permitiu que ela transitasse com liberdade por diferentes áreas do design e da arquitetura — sem medo de arriscar, experimentar e, sobretudo, de errar.