Pietrasanta, o santuário das esculturas
Na italianíssima região da Toscana, a cidade de Pietrasanta carrega a história de etruscos, romanos, Michelangelo e até do exército de Napoleão. E é um dos maiores centros de arte contemporânea do mundo.

Conhecida como a Pequena Atenas, Pietrasanta brilhou na Renascença com Michelangelo e, no século XIX, atraiu Rodin. Mas foi após a Segunda Guerra que se consolidou como santuário artístico, recebendo nomes como Botero, Miró e Mitoraj. Hoje, Pietrasanta pulsa com criatividade, abrigando o Parque das Esculturas, uma extensão do Museo dei Bozzetti. Suas ruas e arredores formam um verdadeiro museu a céu aberto, repleto de esculturas, galerias e oficinas, onde o mármore e o bronze ganham vida. É uma cidade vibrante, moldada pela arte. Vizinha à Carrara e aos Alpes Apuanos, de onde são extraídos os melhores mármores do mundo, Pietrasanta é um dos grandes centros mundiais do material, atraindo escultores desde a Renascença. Entre suas preciosidades está o estatuário, uma variação excepcionalmente branca e pura do mármore de Carrara, preferida por mestres da escultura. Grandes obras, como o David de Michelangelo Buonarroti, foram esculpidas nesse material nobre, símbolo da perfeição artística. Localizada aos pés de pedreiras em plena atividade e dispondo de laboratórios de arte abertos a escultores residentes e visitantes, Pietrasanta se tornou um ponto de encontro para artistas do mundo inteiro. Além do mármore da região, a cidade oferece variedades de pedras vindas do mundo todo, inclusive do Brasil, o que a torna um verdadeiro paraíso para os amantes do material, como nos conta o escultor americano Neal Barab que ali vive há mais de 35 anos. MONTE ALTÍSSIMO No coração de Seravezza, povoado toscano que faz divisa com Pietrasanta, ergue-se o majestoso Monte Altíssimo, uma das montanhas mais icônicas dos Alpes Apuanos. Sua fama vem da altura imponente e principalmente do mármore extraordinário que repousa em suas encostas – material que seduziu Michelangelo Buonarroti e a poderosa família Medici. Foi a mando do Papa Leão X, um integrante da família Medici, que o mestre renascentista abriu a primeira estrada até a pedreira de Cervaiole, em Seravezza, em busca do mármore que revestiria a fachada da Igreja de São Lourenço, em Florença – um projeto que, ironicamente, nunca foi concluído. Para Paolo Carli, presidente da Henraux, empresa de extração e beneficiamento do mármore, sua exploração deixou um legado eterno: a Pietà de Bandini, esculpida em mármore extraído da pedreira de Cervaiole e hoje exposta no Museo del Duomo em Florença. Séculos depois, o Monte Altíssimo continua sendo um paraíso para escultores do mundo inteiro, guardando em suas rochas não apenas a marca de Michelangelo, mas a matéria-prima das maiores obras-primas da história da arte. - Pietrasanta não se tornou um polo da escultura apenas via Michelangelo. Durante o Renascimento, a França importava o mármore extraído nos Alpes Apuanos, que era inspecionado pelas tropas de Napoleão antes de serem enviados ao país. Fascinado pela missão, o general de Napoleão, Jean Baptiste Alexandre Henraux, ao se aposentar, fundou a empresa homônima, ainda hoje referência na extração e beneficiamento de mármore. Com mais de 200 anos de história, a Henraux sobreviveu a duas guerras e passou por diversos proprietários. Entre 1950 e 1960, sob a família Cidonio, acolheu escultores como Henry Moore e Miró, criando uma prestigiada coleção. E a cidade se reinventou quando no fim dos anos de 1960 a vertente artística da Henraux foi desativada pela Banca Commerciale Italiana, que a controlou por dez anos. Os ex-artesãos fundaram seus próprios ateliês, atraindo artistas internacionais e consolidando a cidade como um santuário da escultura, de Michelangelo a Miró. -