Design _ 25 outubro _ por Silvana Maria Rosso

Sara Ricciardi: a médium do design

Com suas criações coloridas, irônicas e elegantes, a designer Sara Ricciardi integra uma nova geração de profissionais italianos que está mudando o conceito de design

Capa da publicação em destaque

Sara Ricciardi faz parte da nova geração de profissionais italianos que está mudando o conceito de design. Para ela, o designer é uma espécie de médium que incorpora a essência do objeto e transforma a matéria por meio do projeto. Nascida no fim dos anos 80, em Benevento, uma pequena cidade da região da Campania, Sara diz com humor que suas raízes estão no húmus do Sul da Itália: “Cresci entre bruxas e baixas frequências”. O interesse pelo design desabrochou na escola secundária quando estudava em Filosofia o demiurgo de Platão, uma entidade que transforma ideias do mundo perfeito em objetos do mundo real. “Achei bonito poder trabalhar com formas e dimensões que pudessem ser compreensíveis e ativar narrativas para as pessoas”, ressalta. Ao encerrar a escola, Sara saiu de Benevento para estudar design de produto em Milão na Nova Academia de Belas Artes (Naba). Depois, seguiu para a Turquia, onde fez um intercâmbio e, para Nova York, onde aprendeu que errar é uma qualidade. “Nova York pede para você agir e fazer, portanto, permite errar. Lá, você também é avaliado em base aos erros que enfrentou; se não errou há um problema porque não saberá geri-los”, salienta. Por fim, retornou a Milão, que de um lado é um vilarejo tranquilo e, de outro, metrópole internacional “que cria conteúdos e relacionamentos com outros projetistas”, considera. Em depoimento a FLO Magazine, a designer relata que iniciou sua trajetória projetando “volumetrias pequenas”. Aos poucos, ampliou a escala e hoje seu estúdio ocupa-se do produto à projetos de instalações, espaços comerciais e direção de arte. “Do objeto à escultura para Dolce & Gabbana e séries customizadas para o Starhotel, do qual sou diretora, a coleções de papel de parede e tapetes e espaços para a Karpeta+Texturae”, exemplifica. Esse elenco de atividades é acrescido com o desenho relacional ou social, prática que inclui todo o campo em torno do ser humano e suas interações, e tem como finalidade o planejamento ou reprojetos de praças, condomínios, cohousings, entre outros. “É uma fórmula de co-projeção com as comunidades. São processos que ativam a consciência humana e urbana”. Sara Ricciardi revela que ao iniciar a carreira teve uma decepção profissional determinante para a sua metodologia de trabalho. Após a imersão de três semanas no centro de pesquisas Fabrica, do grupo Benetton, no qual ela esperava ingressar como pesquisadora, acabou sendo recusada por causa do seu estilo naïf não condizente com a empresa. “Se sou naïf, muito bem, não poderei mudar a minha natureza, mas posso aprofundá-la e posso criar o meu método”, lembra como transformou o sentimento de frustração em trampolim para o que é hoje. Graças a práticas japonesas como a arte da ikebana, que visa o equilíbrio entre o vazio e o cheio por meio da colocação das flores, e a dança butô, que destaca os músculos e as formas expressivas do corpo, conscientizou-se de parâmetros orientais que mudaram as suas tomadas de decisões e o seu modo de projetar. Ela, então, decidiu produzir os vasos da linha Bouquet, a qual tinha projetado para a Fabrica. Inesperadamente, eles participaram da mostra “Woman In Design”, da Triennale de Milano. E dali para a frente, Sara Ricciardi tornou-se uma assinatura. “Digamos que aquele foi um momento de frustração e de falência absolutamente necessário para eu criar um corte narrativo, peculiar e pessoal”, reflete. Depois da frustração do início da carreira, Sara não parou de galgar patamares mais elevados, conquistando sempre mais clientes e parceiros, a exemplo da 5Vie e Interni Design RE-Generation durante a Semana de Design em Milão, onde a designer é cada vez mais requisitada. A operação Gen D com Dolce & Gabbana, apresentada na ocasião, é outra mostra do sucesso da designer e de seu método. Juntamente com outros dez designers, ela foi convidada a interpretar os valores da empresa siciliana. Cada qual desenvolveu seu produto em parceria com artesãos locais. A inspiração de Sara veio das cortinas que protegem os vãos das portas de entrada das casas do Sul dos olhares intrusos, e das luminárias supercoloridas usadas nas sagras da região. Assim nasceu Luminaria, feita de contas coloridas de madeira que resgatam a vivacidade meridional. Em nossa conversa, Sara Ricciardi revela que o seu sistema de criação funciona praticamente como a de um alquimista, que dosa a série de elementos envolvidos no processo e os transmuta em projetos. “Você pode criar fissões nucleares incríveis, diferentes, poções mágicas, sendo um médium de toda essa série de elementos”, explica. No entanto, para isso acontecer, “o momento epifânico” deve ser respeitado. É quando algo se revela, toca o coração e dá start ao projeto. Foi o que ocorreu com a linha desenvolvida para a Venini, que ao caminhar pela vidraria, Sara descobriu a dupla propriedade do vidro e teve o insight para projetar a coleção Metamorfosi. E se Sara é uma alquimista do design, o seu ateliê é um verdadeiro laboratório de projetos e pessoas. O Pataspazio foi inspirado na Patafísica, a ciência de todas as soluções. É um espaço dinâmico que parte do centro do imóvel, onde há uma privada, e se desenvolve em espiral para fora. Os móveis permitem diversos layouts, de modo a acomodar a equipe, composta só por mulheres, e também funcionar como área para eventos e festas. Nada definido e definitivo! Sara valoriza o dinamismo. “Quero consentir a possibilidade sempre nova de abordar e relatar experimentos”, comemora com o entusiasmo de quem acabou de fechar um novo contrato! - Fotos, vídeo e edição de imagens: Rafa Jacinto. Fotos adicionais: Guido Stazzoni, Luca Rotondo, Laura Balardini, Amir Farzad, Cartacarbone, Marco Menghini e Paolo Abate.