Vera Holtz, atriz de imagens e palavras multimídias
A atriz é uma das mais completas traduções do que pode ser conceituado como artista multimídia em contínua expansão pela volumosa bagagem acumulada em diferentes segmentos.

Quando Vera Lúcia Fraletti Holtz entrou em cena em 1975, em montagem carioca de As feiticeiras de Salém, texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller (1915 – 2005) que estreara na Broadway em 1953, dificilmente ela ou alguém próximo imaginou a dimensão que esse grande nome das artes brasileiras alcançaria com o passar dos anos em várias plataformas, inclusive nas redes sociais. Em 2023, Vera Lúcia é uma das mais completas traduções do que pode ser conceituado como artista multimídia. Mas é pelo nome de Vera Holtz que o Brasil conhece e aplaude a atriz paulista de ascendência alemã e italiana, nascida na interiorana cidade de Tatuí (SP), no mesmo ano de 1953 em que o texto de Arthur Miller veio ao mundo. Aos 70 anos, Vera Holtz contabiliza 40 atuações em novelas e séries de TV, 31 incursões pelo cinema – entre curtas e longas-metragens – e 55 peças em currículo que confere à atriz autoridade para discernir e conceituar os diferentes veículos para a exposição do talento dramático. “Como você tem quatro meses para preparar uma história e oito para contá-la, o trabalho na televisão é estendido. Não é tão simbólico ou compacto como no cinema. Ou tão energético como no teatro”, compara Vera. A atriz caracteriza os colegas de uma novela como “uma família de afetos” e o próprio gênero folhetinesco – veículo para a projeção nacional alcançada por Vera Holtz a partir dos anos 1990 – como um “transatlântico lançado ao mar que somente vai parar no destino final”. Por ora sem convites para embarcar em mais um navio-novela, Vera Holtz é uma atriz em contínua expansão pela volumosa bagagem acumulada em diferentes mídias. “Quanto mais você trabalha, mais você se expande. Interpretar é um trabalho orgânico. Cada personagem abre um canal dentro de você. Se você pega uma mulher muito cruel para interpretar, você abre os caminhos mais densos da alma humana”, exemplifica a atriz. Presente no cinema atualmente com dois filmes, o biográfico e documental As quatro irmãs (2023) e o ficcional Tia Virgínia (2023), além do curta-metragem Teatro de Máscaras (2023), Vera Holtz ainda saboreia o sucesso de Ficções (2022), espetáculo de teatro que acumula prêmios e casas lotadas pelo Brasil desde que estreou em setembro do ano passado, no Rio de Janeiro (RJ). Caracterizado por Vera como “um falso monólogo numa estrutura de teatro de revista, com quadros e número de plateia”, Ficções provoca reflexões com encenação do livro Sapiens – Uma breve história da humanidade (2011), escrito pelo israelense Yuval Noah Harari e adaptado para o teatro por Rodrigo Portella, diretor da peça em que Vera divide o palco com o violoncelista Federico Puppi. “Ficções propõe um diálogo entre a música e a palavra”, resume a atriz, ressaltando o caráter metalingüístico da encenação. Fora de cena, mas dentro da rede, Vera Holtz também provoca reflexões com imagens expressivas e inusitadas criadas pela artista e postadas no Instagram da atriz, muitas com caráter nitidamente político. “O Instagram é um lugar de liberdade total e absoluta. Sou mais da expressão verbal do que da escrita. Coloco um pensamento numa imagem. O Instagram é a minha galeria de Arte”, pontua Vera Holtz, cidadã multimídia que ocupa várias plataformas com a grandeza da Arte e da alma que saiu da pequena cidade de Tatuí (SP) para ganhar o Brasil